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Luz, câmera, história

A função do fotojornalista na construção da notícia


Cezar Ribeiro

Aloisio Mauricio cobrindo o desabamento do prédio Wilton Paes, em São Paulo Crédito: Bruno Rocha


Nas retinas daqueles que enxergam além do óbvio nasceram muitas histórias escritas com a luz. A função que a fotografia exerce como documento histórico dá ao fotojornalista a devida importância na construção identitária de uma sociedade. O húngaro Robert Capa, um dos maiores correspondentes de guerra de todos os tempos, afirmava que “se as suas fotografias não estão suficientemente boas, é porque você não está suficientemente perto”, apesar do motivo da sua morte ter sido estar “perto demais” de uma mina, talvez não fosse apenas a essa aproximação que ele se referia.


Uma perspectiva possível da famosa frase pode ser entendida como ver além do visível. Nesse contexto, não se trata de estar perto fisicamente, mas de ter uma profunda capacidade de interpretar o mundo em que vive. Com sensibilidade e luz, o fotojornalista compõe junto ao texto a informação concisa e ao mesmo tempo ampliada.


Fotógrafos que contam histórias


Ainda é cedo quando o fotógrafo Fábio Rogério chega na redação do jornal. As pautas acumuladas na sua mesa são os primeiros indícios de um dia de muitas histórias para contar com as suas fotografias. São quase 27 anos nessa profissão, que começou no Diário de Sorocaba, construindo o acervo documental da sua cidade através de imagens. Há 18 anos no jornal Cruzeiro do Sul, o fotógrafo é uma referência. Paralelamente ao seu trabalho, realiza exposições e um projeto na Biblioteca Comunitária Milton Expedito que desde 2014 leva conhecimento aos amantes da fotografia. Vencedor do prêmio “Os Movimentos das Cidades”, Fábio investiu o valor recebido no seu projeto de ensino.


De todos esses anos cobrindo os fatos mais importantes da sua cidade, foi no Rio de Janeiro, em 2013, que o fotógrafo realizou o trabalho que mais o marcou. Considerado como “o maior evento da história da cidade” pelo então prefeito, Eduardo Paes, a Jornada Mundial da Juventude trouxe ao Brasil o Papa Francisco. Fábio Rogério estava lá para registrar esse evento tão relevante para o país. “Fotografar um evento como a vinda do Papa ao Brasil foi uma experiência única. Foi uma semana em Copacabana, sem dormir. Rendeu um bom trabalho fotográfico e que hoje levo nas minhas palestras com o tema ‘Um Dia na Vida de Francisco’”, conta o fotógrafo, que também deixa um conselho àqueles que pretendem começar na carreira: “Uma coisa que o fotógrafo precisa fazer sempre é estudar, independente do tempo que tenha na profissão”, conclui.


Fábio Rogério na redação do Jornal Cruzeiro do Sul Crédito: Cezar Ribeiro


Há 26 anos o repórter fotográfico Aloisio Mauricio entrava na redação do extinto jornal Primeira Hora, de Osasco. Era a primeira pauta que o fotógrafo de 48 anos iria cobrir, na ocasião, a explosão de um shopping na cidade de Osasco, em São Paulo. Naquele momento os seus objetivos começavam a se concretizar, pois Aloisio nunca pensou em ser outra coisa na vida a não ser fotojornalista. Nesse dia ele descobriu a verdade daquilo que ia fazer ao longo da sua vida, que é lidar com a dor, com a realidade das ruas e com os perigos da profissão.


No jornal Primeira Hora Mauricio aprendeu a linguagem da polícia, a linguagem do bandido e a linguagem do político. Ali ele descobriu o que é o fotojornalismo. Em 1998, Com o portfólio nas mãos, ele bateu na porta dos grandes veículos de imprensa, foi quando o também extinto jornal Notícias Populares o contratou. Nos quatro anos que ali ficou, construiu as bases que caracterizam o trabalho de um grande profissional. “Ali não foi uma escola, foi um doutorado, um mestrado, foi a coisa mais extraordinária, mais espetacular que já aconteceu na minha vida. As histórias no Notícias Populares me ensinaram a lidar com o fundo do poço e também com o brilho do ouro, porque eu fotografava desde a chacina com 16 pessoas mortas dentro de um barraco 4x4 até uma cobertura com o presidente dos EUA”, conta.


Muitas coisas estão guardadas na memória de Aloisio, são lembranças que o abalaram de alguma forma, desde imagens a sons. A certeza do que se quer, o sangue frio e a humildade são as premissas que ele julga necessárias para a profissão. “Muita gente está vindo para a rua sem formação, sem noção nenhuma. É gente querendo desafiar a polícia porque está com o crachá da imprensa, é gente falando mal de político porque pertence a uma determinada agência, é gente querendo aparecer porque teve credencial aprovada em um grande evento e só faz coisas erradas”, explica o fotógrafo, que considera a discrição uma condição fundamental para realizar um bom trabalho. “O fotojornalista é uma águia, ninguém vê o cara, ele está alto, está vendo tudo o que está acontecendo e na hora de atacar, ele ataca, com o movimento certo, com o click certo”.


Com passagem pelos maiores veículos do Brasil, como Folha de São Paulo, Diário Popular, O Estado de São Paulo, dentre outros, hoje Aloisio é fotógrafo da agência Fotoarena, onde começou como editor, mas voltou para as ruas. “Eu não consigo ficar dentro de redação, fotojornalismo é a minha paixão de verdade e eu não sei fazer outra coisa”, conclui.




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