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Cavalo Marinho e a Sambada de Reis

“O coco é seco, a estrada é laiga, e poêra é fina!”


Pedro Camargo


Capitão Marinho dança em ritmo pulsante na Sambada de Reis para cortejar outros brincantes. (Foto/ Pedro Camargo)


Com enorme descaso e uma soberba enxergada, próximo às escadas, bem em frente à grande fachada do museu do Ipiranga, uma figura representante de Dom Pedro I desfila em círculos dentro de uma roda – esta que está repleta de espectadores, dançarinos, músicos e atores interpretando entidades. Sim, você leu certo, ‘entidades’: Cavalo Marinho e a Sambada de Reis, que o satirizam por um tom zombador e cheio de humor a cada palavra trocada com os brincantes.


No Nordeste, o termo brincante designa os artistas populares dedicados aos folguedos tradicionais; onde acontece o espetáculo.

Eles estão no imaginário da cultura pernambucana, vista do pátio de um dos museus mais famosos da cidade de São Paulo, pelo grupo Manjarra. É uma dança, uma alegria de grande poesia e uma cantoria que não finda. Os detalhes das roupas que os vestem e a maquiagem forte que, para alguns ali, parecem até exageradas, dão um ar místico e curioso à roda. Porém, o vocabulário dos discursos e conversas entre as entidades é conhecida; um dialeto nordestino e marcado pelo teor divertido e amigável, apesar de zombeteiro.

Em passos denominados “trupés”, capitão marinho embala no humor para cortejar os próximos participantes da roda. (Foto/ Pedro Camargo)


Eles chamam toda essa beleza viva e pulsante de “Dança Tradicional do Cavalo Marinho” – uma brincadeira que convida jovens, adultos e idosos para abrir um sorriso e ter ele devolvido por outros da roda. Originalmente, neste ato lúdico tradicional, todos se adentram ao rito a partir da boca da noite (anoitecer) e vão até “quebrar a barra do dia” – quando amanhece.

“Seu Martelo”, brincante de Mateus de cavalo marinho, o Mateus mais antigo de Pernambuco. (Foto/ Pedro Camargo)


Momento que Mateus entra na roda, onde já estava a figura que representava Dom Pedro I. (Foto/ Pedro Camargo)


(Foto/ Pedro Camargo)


Foi na Zona da Mata Norte de Pernambuco, nos intervalos do trabalho na lavoura de cana, entre “trupés” – passos da dança – de diversos tipos, que se inventou esta brincadeira. Uma festa em homenagem aos Santos de Reis.


Na encenação, o diálogo é acompanhado de instrumentos formados por rabeca, pandeiro, bagé, caná e ganzá. Um cortejo de ritmo pulsante e repleto de formações coreográficas de passos que levantam poeira e convida aqueles que assistem.


Mateus utiliza a bexiga de boi para fazer composição ao som de outros instrumentos (Foto/ Pedro Camargo)


Na última visita ao Museu do Ipiranga, a apresentação durou apenas pouco mais de duas horas, uma amostra das mais de oito horas da tradicional encenação, que ocorre sem intervalos. Os brincantes te deixam um convite: quer brincar também?

Capitão marinho convida um menino da plateia para brincar junto a ele na Sambada dos reis. (Foto/ Pedro Camargo)

















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