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Um martelinho da água-que-passarinho-não-bebe

Símbolo nacional e primeiro destilado da América, a cachaça se faz presente na identidade

brasileira e se apresenta útil para todas as ocasiões, seja na saúde ou na doença, esse

casamento celebra muita brasilidade e complexidade.

Petlyn Dara


Com uma origem cheia de misticismos, o que sabemos é que sua primeira

destilação ocorreu entre 1516 e 1532, em um engenho de açúcar no litoral brasileiro. Desde então, a cachaça é consumida tanto pura quanto envelhecida em madeiras que agregam variados sabores ao tradicional destilado.


A prática de envelhecimento na madeira se deu principalmente pela facilidade de

acesso ao material, que anteriormente se mantinha apenas no recipiente de aço inox. Em algumas regiões do país, como em Salinas (MG), é tradição o uso exclusivo de madeiras nativas, como o bálsamo. Contudo, a produção em maior escala passa pelo carvalho americano ou o europeu, podendo ser utilizado também em blends (misturas com outras madeiras) para o desenvolvimento de um sabor único.


Além da variedade de madeiras para os barris de envelhecimento da bebida, fatores como o tipo de cana-de-açúcar e o estilo de fermentação, também são determinantes para o sabor final do produto. Além, é claro, das condições de clima e solo da região em que é plantada.


A autenticidade adquirida pela matéria-prima nacional para o barril, advém de

madeiras como amburana, jequitibá e amendoim. Podendo ser classificada como premium ou extra premium dependendo do tempo de permanência no barril.


“Eu fui numa festa no rio Tietê

Eu lá fui chegando no amanhecê

Já me deram pinga pra mim bebê

Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê

Eu bebi demais e fiquei mamada

Eu caí no chão e fiquei deitada

Aí eu fui pra casa de braço dado

Ai de braço dado, com dois sordado

Ai, muito obrigado”


Moda da Pinga - Inezita Barroso


Sua versão pura, a cachaça branca, além de ser consumida por si só, é também

utilizada em drinks como a caipirinha, um símbolo cultural brasileiro à nível de futebol e samba. Inicialmente utilizada como remédio contra a gripe, a bebida que mistura cachaça, limão, gelo e açúcar, popularizou-se a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922, ao ser escolhida como a bebida oficial do evento que celebrava brasilidade.


O Brasil da Cachaça


Em 2009, foi decretado o 13 de setembro como Dia da Cachaça. A bebida, que já

teve sua produção proibida em território nacional, foi relevante em manifestações anti coloniais durante toda a história do Brasil, como um símbolo nacional para além das heranças deixadas por Portugal.


A Revolta da Cachaça é uma forte representação do valor histórico da aguardente

brasileira. Após Portugal proibir sua produção e venda, visando diminuir a concorrência com a bagaceira (destilado português derivado da uva), o comércio ilegal cresceu e foi comandado por figuras influêntes da época. Para controlar a situação, a Coroa decidiu taxar as posses de bebidas ilícitas. Em resposta, 112 alambiqueiros atravessaram a Baía de Guanabara exigindo o fim da cobrança de taxas. Após anos de resistência, em 1695 a proibição foi revogada.


A Fazenda Pinhal, em Boituva, produz a Cachaça Três Coronéis desde 1903. O

processo, que se mantém artesanal, inicia ainda no tratamento do solo para a plantação de uma cana-de-açúcar de qualidade, adubado de forma orgânica sem o uso de aditivos químicos. O cachaceiro e monitor turístico, Leandro de Oliveira Jorge, refere o processo “é um produto feito tipicamente no nosso alambique que é todo artesanal, usamos todo o produto da cana para manter o alambique funcionando, por exemplo, todos os alambiques, hoje, são a gás, mas nós usamos o próprio bagaço da cana para acender as caldeiras”.


Leandro, também relata como nota a relevância da cachaça fora do Brasil pela reação dos turistas ao experimentar o produto “a gente tem essa visibilidade quando turistas vem para cá, quando eu recebo qualquer gringo, eles ficam fascinados falando “a gente veio aqui para experimentar a cachaça porque lá fora só se fala na cachaça e aqui na região a de vocês é a mais bem falada” eles ficam muito surpresos e muito felizes com a diversidade de sabores que a gente consegue dar, então isso encanta bastante eles”.


Mercado e Cultura


Segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), apesar de o setor de

exportações ter sido afetado pela pandemia, os números apontam para uma recuperação impulsionada por programas de investimento como o Projeto Setorial de Promoção às Exportações de Cachaça, parceria entre o IBRAC e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).




Além da demanda externa, é notável, também, uma ampliação do consumidor que

busca pela cachaça. O produto tem se renovado e encontrado uma demanda do público mais jovem, que se encanta ao descobrir os diferentes sabores e aromas.


O empreendedor Sérgio Berlanga atribui o alcance da bebida à sua pluralidade de propostas, e afirma: a cachaça é produzida para todo mundo, tem para o pobre e para o rico, ela é nossa”. Berlanga ainda acrescenta que, na sua loja, o principal público se mantém majoritariamente masculino e acima dos trinta anos, porém percebe mudanças “ultimamente têm aparecido gente de fora desse padrão em busca da cachaça, já não é fora da nossa realidade”.


A religião não foge da contemplação cultural que envolve a cachaça. O rito “uma

cachaça para o santo”, é uma Libação - ação que consiste em derramar oferendas para honrar entidades, existente em rituais de origem greco-romana e em religiões afro-brasileiras como Candomblé e Umbanda. O rosário é outra referência religiosa dentro dos costumes da bebida. Ao ser servida, muitas cachaças formam bolhas de ar - semelhantes ao formato do rosário cristão - que indicam qualidade e valor alcoólico dependendo do tempo de sua persistência.


A falsificação de bebidas e a má destilação do álcool, podem trazer severos riscos à saúde, por isso é importante certificar-se de que o produto consumido é regulamentado e segue as devidas regras de armazenamento.


Seja como for, de que região for, com que nome for: a braba, brasileirinha,

camarada, cura-tudo, danada, esquenta-corpo, elixir ou fogosa, é um dos mais tradicionais símbolos culturais do Brasil.

E de saideira, lembre-se: beba com moderação!


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