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KUSTOM KULTURE, ARTE DE CUSTOMIZAR É DESTAQUE EM EVENTO CULTURAL

Lucky Friends Rodeo Motorcyle reúne apresentação de bandas musicais, exposição de motos, stands de customização e circuito de flat track.

Carolina Duque


Liberdade, movimento, Rock' n Roll e estilo, muito estilo. Se cultura significa comportamento, tradição, vestimenta, música, arte ou qualquer outro tipo característico de um determinado grupo social, então essa galera sabe bem o que faz. Criado em 2016, pelo fundador Flávio Luz, o Lucky Friends Rodeo Motorcycle, realizado anualmente em Sorocaba, nasce a partir da ideia de disseminar a cultura custom ou Kustum Kulture, como é chamada, junto às corridas de Flat Track (modalidade americana de circuito esportivo de moto).


Flávio possui o estilo característico da Kustom Kulture, mantém a barba feita e mais longa do que o comum, as tatuagens pelos braços falam por si e declaram a personalidade dele. Muito animado e com uso de algumas gírias, Flávio, que é fundador do evento e da marca, explica que a ideia veio a partir da paixão e do desejo de trazer para o Brasil o que já se fazia nos Estados Unidos, “Eu tô nesse meio de customização desde meus 15 anos de idade. A base de tudo da Lucky Friends é a customização de moto, de harley-davidson. Essa é a nossa essência e disso veio a ideia de fazer o evento”, conta.


Para ele, o evento é destinado para todos os públicos e sem discrição, “A gente costuma falar que virou a catraca é todo mundo igual. Não tem camarote. Não tem área vip. O Rodeo é pra criança, para jovem e para senhor. É um evento cultural, gastronômico e motociclista. Hoje a gente consegue atender vários segmentos que fazem parte de uma cultura, que envolve toda a maneira de se expressar, seja em roupa, em carro, em moto, na comida e na música”, explica.


O evento começa a tomar forma ainda na estrada, já que aos poucos aparecem pelo caminho dezenas de motociclistas montados em suas Harley-Davidsons e vestidos em seus coletes de couro grafados com o nome do seu moto clube, uma parte bastante emblemática e complexa de seu estilo pessoal e um indicativo que aponta o caminho certo e reúne um misto de ansiedade, animação e euforia “o Rodeo já está começando”.


Um grupo de 5 rapazes que parece ter parado na década de 60 sobe ao palco com a plateia praticamente vazia. Um tecladista e vocalista, um baixista, um guitarrista, um baterista e um saxofonista que vieram direto de Amsterdam para tocar sua música pela primeira vez no Brasil, intimam o público a se aproximar e em 4 minutos já se batia cotovelo com um estranho ao seu lado, o espaço estava lotado. A animação do público não passou despercebida por David Grutter, vocalista da banda Doctor Velvet, que frisou no clima do dia “Está quente, quente por causa do tempo e quente por causa da reação das pessoas. Todo mundo aqui sabe curtir uma festa”, disse em entrevista concedida em inglês.

David aproveita a animação do público e sobe nas caixas de som do evento, o que chama a atenção são os solos vocais e as notas altas características do rock dos anos 60


Em tradução livre, Kustom Kulture é um neologismo realizado com as palavras ‘Custom' (personalizado) e ‘Culture’ (cultura) que juntas significam a “cultura da personalização”. De acordo com o blog Machine Cult, a definição da cultura engloba todas as tendências em arte, veículos, moda e estilo de quem dirigia carros e motos personalizadas dos anos 50 em diante. Em resumo, a arte de redesenhar, modificar ou transformar está incluída na Kustom Kulture.

David Grutter e Jhon Stravolto em um dueto de sax e piano


Apesar de estar inserida no mundo da música, a Doctor Velvet também tem “customizado”, de certo modo, a sua forma de fazer música a partir de outras bandas e estilos musicais. Sobre sua principal inspiração, David responde que alinha aos anos 60 com estilos como Danish Rock (Rock Dinamarquês), Rock' n Roll e Punk, “Algumas bandas como the sonics e the gramps e, também, blues. Essa é a nossa inspiração, mas a gente tenta fazer ficar legal para o público mais jovem”.


Se de um lado a banda Doctor Velvet tenta transformar estilos musicais da década de 60 em algo mais moderno, de uma maneira envolvente e bastante agitada, do outro, a cutelaria B. Ferro, de modo mais bruto, propõe uma viagem histórica e familiar à arte de fabricar lâminas e instrumentos de corte. Os visitantes ficam curiosos e logo se aproximam para ver o que está acontecendo e Bruno, muito orgulhoso com a atenção do público, não demora muito a dizer “O nome Ferro não é artístico não. É sobrenome da minha família”, afirma.


O processo é demorado, o ambiente fica quente por conta do forno e mesmo suado, Bruno é paciente ao esperar o aço estar mais maleável a partir da mudança da estrutura atômica do aço (causada pela altíssima temperatura), depois é preciso força para fazer o material tomar forma às marteladas e, enfim, endurecer novamente. O processo se repete diversas vezes até que um pedaço de aço sem graça se torna uma faca bem afiada.

Após marteladas, Bruno Ferro torce o aço para dar forma no cabo da ferramenta.


Bruno Ferro, de 26 anos, é metalúrgico industrial, cuteleiro profissional e está há 6 anos nesse ramo. Seu bisavô e seu avô eram metalúrgicos industriais e ele conta que o amor pelo aço está na família há 3 gerações e por isso se interessou nessa área, contudo, encontrou na cutelaria um meio mais artístico para o seu trabalho “A metalurgia é limitada, eu queria mais. Eu queria poder criar algo diferente, algo a partir da minha vontade e não de um projeto e foi onde eu me identifiquei na cutelaria, através da transformação do aço em arte”, diz.


Expondo pela segunda vez no evento, Bruno Ferro explica que a aceitação do público é bastante engajada e que, eventualmente, transforma materiais dos amigos em outras peças, com mais significado “Eu vejo que o público que adere mais a esse estilo de vida, prezando pela liberdade, pela liberdade de expressão e, principalmente, expressão artística, acaba gostando muito (do que eu faço). Eu, por exemplo, utilizo materiais das próprias pessoas que me fornecem”.

Nada de homens barbudos bebendo cervejas e falando de motos, eles estão lá, mas não é só isso. O evento é um impressionante desfile de moda extremamente autêntico, as crianças estão por todos os lados se encantando com os processos de customização e as mulheres roubam a cena quando o assunto é se impor. Um espaço para todos os estilos, uma viagem musical e artística para as décadas de 50, 60 e 70, a diversão e a oportunidade de conhecer o diferente é garantida. E aqui, julgar o livro pela capa é proibido, uma vez que em cada parte do evento há escondida uma verdadeira caixinha de surpresas.


Um verdadeiro desfile de autenticidade, as mulheres chamam a atenção com looks da kustom kulture


O Legado dos Anos Rebeldes


Muito se discute sobre o nascimento da Kustom Kulture e a história desse movimento cultural e de estilo de vida ainda é bastante incerto. Contudo, há 3 nomes que tem sido considerados os grandes padrinhos do movimento e que até hoje são referências no assunto, são eles: Von Dutch, Big Daddy e George Barris.


Kenny Howard ou Von Dutch, como era chamado, nasceu em meados da década de 20, e era conhecido pelo seu trabalho de pinstriping (técnica de customização em veículos) e pela produção de camisetas customizadas. Atualmente, a Von Ducth é uma marca de vestuário consagrada e no histórico, a marca define Kenny como uma pessoa isolada e marginal à sociedade “um homem de poucos amigos e de personalidade forte, o típico americano que gostava de confusão e bebidas”. Ainda de acordo com a marca, “Howard fez milhares de pinturas que representaram a rebeldia e a liberdade da juventude da década de 50”.


Já George Barry, é conhecido por ter inserido o primeiro 'K' em Kustom ao criar um clube chamado “Kustoms Car Club”. Também nascido em meados da década de 20, George personalizava carros do zero, desde a alteração de motores até a pintura mais autêntica e com ele, a kustom kulture começa a se espalhar já que Barris projetou e construiu um dos carros mais famosos do cinema: O batmóvel (1966).

É a partir daí que se estabelece o perfil mais popular da kustom kulture que conhecemos em “Grease: Nos tempos da brilhantina”, por exemplo, e em outros filmes que retratam a década de 50 como um período cheio de rock, pin-ups, rapazes de jaqueta de couro arrumando confusão, carros estilosos, motos imponentes e uma moda extremamente característica. Afinal de contas, quem nunca se divertiu com “You’re the one that I want” que atire a primeira pedra.


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