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Os bastidores de um espetáculo

Atualizado: 25 de nov. de 2022

Um espetáculo de apenas uma hora tem por trás muita dedicação e esforço de toda sua equipe. São necessários cenários, textos, direção, figurinos e atores para a formação de uma peça.

Samara Peres


Sentada em uma cadeira preta localizada na parte esquerda, olhando para o palco, são desligadas todas as luzes. Esse foi o indício de que o espetáculo já iria começar e, diferentemente de grandes teatros, ali o sinal não toca três vezes. A luz começa a aparecer, a música vai aumentando de pouco em pouco e quando você se dá conta os atores já estão ali, na sua frente, prontos para começar o início do fim, o resultado de um trabalho que horas antes já estava sendo preparado.


Eram 15h30 de um domingo, três dos cinco atores da Companhia Clássica de Repertório já estavam presentes no Teatro Escola Mario Persico, sede da companhia, onde se realiza grande parte de suas apresentações. Eles estavam ainda no primeiro andar onde fica o acervo dos figurinos.


Às 16h eles subiram as escadas rumo ao terceiro andar, ali começaria os preparativos para a apresentação da peça “Minha vida com o Jaime”. Uma colcha de retalhos grande é esticada e pendurada entre o fundo do palco com a parede do prédio, apesar de ser apenas um cenário simples, tudo tinha que estar perfeito. Em conjunto com a montagem do cenário era acertada a iluminação.


Após uma hora, com todos os atores presentes começou o ensaio, erros, tropeços, improvisos, foco e risadas marcam o clima dos bastidores “ Você entra em uma imersão, você está no seu espaço e se preparar de várias maneiras: passando o texto, preparando a voz, preparar o corpo fazendo alongamentos porque querendo ou não ficamos mais travados no dia. Tem que ter esse tempo para você processar os personagens entrar no ambiente e o espaço ajuda muito a entrar no personagem”, salientou Lara Constantine, atriz de 25 anos.



A comunhão com os colegas e o entrosamento ajudam na hora da apresentação, para o elenco tenha uma troca e o público a perceba (Foto: Samara Peres)


Lara ainda contou como foi a preparação de elenco, ela disse que foi relativamente rápida, durou um mês e meio, de final de junho a começo de agosto que foi quando estrearam. Nessa preparação, mesmo que o texto já tivesse inteiro escrito por Mario Persico, que também assina a direção e ainda atua como Jaime, houve pequenas mudanças que fizeram toda a diferença e combinam com a vivência do elenco. Lara explica como uma dessas mudanças aconteceu “Apesar de morar aqui no Brasil há mais de 10 anos, eu sou suíça e meu primeiro idioma é o francês, em algum momento tropecei em alguma palavra e falei no idioma errado, o Mario logo veio com a sugestão ‘porque não colocar a gata para fazer um sotaque francês’ todo mundo aprovou e foi feita a mudança, mas para isso eu tive que estudar, porque não sabia imitar o sotaque”, completa rindo.



“Quando você ama seu trabalho você pensa nele em todos os momentos, eu amo atuar, escrever e dirigir peças, por isso penso nele o dia todo até no travesseiro, antes de dormir. Tudo o que acontece na minha vida eu penso se ficaria bom em minhas peças como sotaques, caídas e trilhas” - Mario Persico

Terminado o ensaio todos os atores foram colocar seus figurinos lúdicos, apesar da peça ser ambientada na atualidade os figurinos remetiam a algo de época. Quando foram iniciar a maquiagem começaram aparecer imprevistos, como o esquecimento da base para cobrir uma tatuagem para a peça. Todos os outros integrantes pensaram juntos em como poderiam resolver a situação. Como a tatuagem era no pescoço, encontraram um cachecol e o problema já estava resolvido.


Os atores se maquiam sozinhos, quando há alguma coisa que precise ser feito por outra pessoa, os colegas do elenco se disponibilizam a ajudar (Foto: Samara Peres)


Faltando menos de cinco minutos para a peça começar, por volta das 18h16, a equipe se reuniu, fez um círculo e deu as mãos e juntos proclamaram a seguinte oração “Eu seguro a minha mão na sua, eu uno meu coração ao seu, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso e nem quero fazer sozinho”, disseram merda todos juntos, caminharam rumo ao palco e entraram em cena.


Dificuldades enfrentadas na pandemia


A indústria cultural em um todo foi muito afetada em 2020, quando começou a pandemia de coronavírus, já que este é um setor que majoritariamente depende de shows e espetáculos para sobreviver. Com o mundo em isolamento, tudo o que não era primordial foi restringido deixando o meio artístico à beira da falência. Neste período, teve uma redução de 43% da produção de atividades, e a estimativa foi de uma perda de 69,2 bilhões de reais nesta área de produção, de acordo com a Pesquisa de Conjuntura do Setor de Economia Criativa – Efeitos da Crise da Covid-19 pela FGV (Fundação Getulio Vargas) feita em junho de 2020.


Assim como foi constatado nas estatísticas, Mario Persico também sofreu com a pandemia, sua escola teatro que já não estava indo tão bem desde 2019, quase fechou com o início da pandemia “O que nos ajudava a pagar todas as contas em dia era as apresentações que tinham religiosamente todos os finais de semana, era isso que garantia a sobrevivência, o pagamento do aluguel e com a pandemia a gente teve que parar e foi complicado”. contou o dono do Teatro Escola Mario Persico.


Com a falta dos espetáculos presenciais as companhias de teatro tiveram que se reinventar e se adaptar, foram feitos "peças onlines" que eram transmitidas por lives, ou como a Cia clássica de Repertório eles criaram uma radionovela, com 30 capítulos, cada um gravando em sua casa com o celular, para depois ir para a edição.


Mesmo com as tentativas de adaptações à nova situação, muitos artistas ainda não conseguiam pagar todas as contas e sobreviver, por isso, o governo federal aprovou uma lei para ajudar o setor cultural. Neste caso, foi a Lei nº 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc (LAB), que estabeleceu várias medidas para o momento de crise como: garantir acesso à renda emergencial aos profissionais, subsídios de manutenção aos espaços culturais que tiveram que parar suas atividades e fomentar a cultura naquele período, por meio de prêmios e editais.


Essa lei foi essencial para a sobrevivência do teatro escola, como Mario comentou ainda com tom de angústia na voz “Se não fosse a Lei Aldir Blanc com certeza teriamos fechado. Como veio um bom dinheiro para nós, graças a esta lei, foi possível pagar as contas básicas até o final do ano, como o aluguel do prédio em que está a sede do Teatro Escola Mario Persico e onde a Cia. Clássica de Repertórios faz quase todas as suas apresentações".


Hoje apesar da situação econômica da escola estar melhorando, a companhia ainda não conseguiu voltar com fôlego total, mas o caminho está sendo trilhado, apesar de ainda não ter espetáculos toda semana, as lacunas estão bem menores e com isso continuará seguindo em frente e lutando para fazerem o que amam atuar e levar emoções ao público que os assiste.


Serviço


A peça “ Minha vida com o Jaime” é um drama infantojuvenil, Jaime é o cachorro de uma família composta de pai, mãe e filho, que por conta das condições financeiras deverão sair da casa em que sempre viveram e ir para um apartamento que não aceita animais, este é um dos motivos pelos quais os pais precisam renúncia-lo, e o destino de Jaime será mudado radicalmente, mas o filho não quer aceitar. A peça ainda aborda a adoção responsável de animais e traz exemplos de ações que vemos no cotidiano e nos faz refletir sobre essas decisões.

Mais informações podem ser obtidas através do instagram @teatroescolamariopersico.











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